terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Consumo de fast food pode comprometer o aprendizado infantil, defende estudo

Pesquisa afirma que a falta de nutrientes adequados, como o ferro e outras vitaminas, pode ter relação com a dificuldade em disciplinas como matemática e ciências


A relação entre fast food e obesidade infantil não é nenhuma novidade. Um estudo da Universidade de Ohio revelou, porém, que os prejuízos desses alimentos não atingem apenas o físico e a saúde nutritiva das crianças. De acordo com a pesquisa, quanto maior o consumo de fast food, menor o desenvolvimento educacional e pedagógico dos pequenos.

A análise levou em conta crianças matriculadas entre a 5ª e 8ª série do Ensino Fundamental, quando são lecionadas disciplinas como matemática, ciências e redação, nos Estados Unidos. Elas tiveram que responder questões sobre a frequência com quem se alimentaram de fast food semanalmente, independentemente de estarem em “semana de prova” ou não.

Ao cruzar essas informações com o histórico escolar dos entrevistados, os pesquisadores descobriram que os que comeram algum tipo de fast food pelo menos uma vez ao dia tiveram um baixo desempenho nas disciplinas em questão. Essa deficiência foi detectada com maior intensidade em matemática.

“Essas descobertas mostram que o consumo de fast food tem relação com baixo desenvolvimento educacional e, consequentemente, com a obesidade infantil. O problema não está, porém, nas famílias que ocasionalmente consomem esses alimentos, ao contrário daquelas que transformam isso em rotina”, pondera Kelly M. Purtell, autora da pesquisa.

Segundo ela, a explicação está na carga de nutrientes desses alimentos. Os fast food não possuem todas as vitaminas e minerais necessários para o aprendizado efetivo das crianças. Além disso, eles são ricos em gordura e açúcar, o que também compromete o desenvolvimento intelectual na infância. Outros fatores podem contribuir para esse quadro, como a educação dos pais, renda familiar, insegurança alimentar e o hábito de assistir à televisão durante as refeições.

De acordo com os pesquisadores, um caminho é tornar o fast food menos acessível para as crianças. Taxas específicas, por exemplo, tornariam esse tipo de alimento mais caro e, por isso, menos atrativo para as famílias. Outro ponto seria transformar o ato de cozinhar em algo mais prazeroso e atraente para adultos e crianças, que culminaria na redução do consumo de fast food.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Carinho, atenção e interação mais positiva com o bebê tem influências diretas e traz benefícios para a fase adulta

Afeto é a chave do sucesso na criação e desenvolvimento dos filhos, revelou um novo estudo da Universidade de Delaware, nos Estados Unidos


Segundo os autores, uma educação com mais atenção e carinho é responsável pelo êxito dos pequenos na fase adulta, tanto em habilidades sociais como no meio acadêmico.

No total, cerca de 240 pessoas foram acompanhadas desde o nascimento até a fase adulta, na idade de 32 anos, pelos pesquisadores e autores do estudo. Aqueles que tiveram uma criação baseada na afetividade tiveram um melhor desempenho em habilidades sociais, como relacionamentos amorosos e interpessoais. O mesmo resultado pode ser observado no histórico escolar dos adultos que participaram da pesquisa.

“O estudo também sugere que a experiência das crianças com os pais nos primeiros anos de vida tem um papel fundamental no desenvolvimento social e educacional, influenciando não só as duas primeiras décadas de vida, como também a fase adulta”, explica Lee Raby, pesquisadora da Universidade de Delaware e uma das autoras do estudo.

Uma criação afetiva depende de diversos fatores, não só apenas um tratamento mais carinhoso e atencioso com os pequenos. Envolve também a resposta apropriada aos sinais do bebê, interação positiva e segurança física e emocional, que permite que os filhos consigam explorar e conhecer o meio em que vivem.

“Isso demonstra que o investimento em uma relação de qualidade, logo na primeira infância, tem influência na vida adulta. Indivíduos bem-sucedidos no campo emocional e acadêmico são a base de uma sociedade saudável”, defende Lee Raby.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Falta de escrever à mão pode prejudicar desenvolvimento cerebral das crianças


Uma pesquisa americana sugere que o uso excessivo de teclados e telas sensíveis ao toque em vez de escrever à mão, com lápis e papel, pode prejudicar o desenvolvimento de crianças.

A neurocientista cognitiva Karin James, da Universidade de Bloomington, nos Estados Unidos, estudou a importância da escrita à mão para o desenvolvimento do cérebro da criança.

Para chegar à conclusão de que teclados e telas podem prejudicar esse desenvolvimento, a pesquisadora estudou crianças que ainda não sabiam ler --que poderiam ser capazes de identificar letras, mas não sabiam como juntá-las para formar palavras.

No estudo, as crianças foram separadas em grupo diferentes: um grupo foi treinado para copiar letras diferentes, enquanto outras trabalharam com as letras usando um teclado.

A pesquisa testou a capacidade dessas crianças de aprender as letras. mas os cientistas também usaram exames de ressonância magnética para analisar quais áreas do cérebro eram ativadas e, assim, tentar entender como o cérebro muda enquanto as crianças se familiarizavam com as letras do alfabeto.

O cérebro das crianças foi analisado antes e depois do treinamento, e os cientistas compararam os dois grupos diferentes, medindo o consumo de oxigênio no cérebro para mensurar sua atividade.

Respostas diferentes
Os pesquisadores descobriram que o cérebro responde de forma diferente quando aprende por meio da cópia de letras à mão de quando aprende as letras digitando-as em um teclado.

As crianças que trabalharam copiando as letras à mão mostraram padrões de ativação do cérebro parecidos com os de pessoas alfabetizadas, que podem ler e escrever.

Escrever à mão ativa áreas diferentes do cérebro das crianças

Esse não foi o caso com as crianças que usaram o teclado.

O cérebro parece ficar "ligado" e responde de forma diferente às letras quando as crianças aprendem a escrevê-las à mão, estabelecendo uma ligação entre o processo de aprender a escrever à mão e o de aprender a ler.

"Os dados do exame do cérebro sugerem que escrever prepara um sistema que facilita a leitura quando as crianças começam a passar por esse processo", disse James.

Além disso, desenvolver as habilidades motoras mais sofisticadas necessárias para escrever à mão pode ser benéfico em muitas outras áreas do desenvolvimento cognitivo, acrescentou a pesquisadora.

Computadores em escolas
Muitas escolas têm pressa em implantar computadores em classes com crianças cada vez mais jovens.

As descobertas da pesquisa podem ser importantes para formular políticas educacionais.

"Em partes do mundo, há uma certa pressa em introduzir computadores nas escolas cada vez mais cedo, isso (essa pesquisa) pode atenuar (essa tendência)", disse Karin James.

Muitas escolas americanas até já transformaram escrever à mão em uma alternativa opcional para professores. Muitos educadores não ensinam mais caligrafia.

Uma solução poderia ser usar algum programa em um tablet que simulasse o ato de escrever à mão.

Mas, pelo que a pesquisa da cientista sugere, nada parece substituir o aprendizado com a escrita à mão.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Deixar para depois

A procrastinação não é exclusividade do ambiente profissional; crianças e adolescentes também enfrentam esse problema na escola e ajudá-los é uma tarefa do educador




Quem nunca passou horas em frente à televisão enquanto deveria estar escrevendo um trabalho? Quem nunca ficou com raiva de si mesmo por ter adiado uma tarefa importante sem, aparentemente, nenhuma justificativa? Ou ainda, quem nunca disse que só consegue trabalhar sob pressão, com prazos curtíssimos? Ao contrário do que pode parecer, adiar atividades e compromissos não é um problema individual, mas um comportamento comum a todos e que tem nome: procrastinação.
As pesquisas referentes à procrastinação dão maior evidência ao seu impacto na vida profissional, entretanto, na maioria dos casos esse comportamento começa no próprio ambiente escolar e consequentemente se repete no ensino superior e na carreira profissional.

Estudar uma noite antes da prova, acumular lições de casa ou escrever o trabalho que deveria ser feito ao longo de um mês em apenas um dia são comportamentos recorrentes no cotidiano de estudantes do ensino fundamental e médio. Os procrastinadores costumam ser tachados de preguiçosos, mas psicólogos alertam que procrastinação não é sinônimo de ócio; significa simplesmente realizar outras atividades menos importantes no lugar da pretendida.

De modo geral, a procrastinação escolar é uma disfunção dos processos de autorregulação da aprendizagem. "A autorregulação é um tipo de aprendizagem onde eu moldo meus comportamentos em direção a determinado objetivo. O aluno que procrastina faz uma planificação inadequada das tarefas e não consegue proteger dos distratores sua intenção de terminar determinada atividade", explica Pedro Rosário, psicólogo e professor na Escola de Psicologia da Universidade do Minho, em Portugal, e coordenador do Grupo Universitário de Investigação em Auto-Regulação.

Além do mau gerenciamento do tempo, a psicóloga e mestre em Educação Rita Karina Sampaio aponta que as pessoas tendem a protelar atividades que consideram desagradáveis ou as quais não se julgam boas o suficiente para realizar. A resposta para a ansiedade diante das provas, por exemplo, pode ser o adiamento do estudo. "O medo de falhar faz com que as pessoas usem o que chamamos de estratégias auto-prejudicadoras para que essas crenças não se concretizem de fato", diz.

A psicóloga conta que a maior parte dos alunos entrevistados para sua dissertação de mestrado Procrastinação acadêmica e autorregulação da aprendizagem em estudantes universitários, defendida na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), pontuou que já procrastinava na escola. 

O dado traz um questionamento incômodo: se a procrastinação é um problema que vem desde a educação básica, por que ela não é identificada e combatida desde o princípio?

Uma das justificativas pode ser a falta de ferramentas para relacionar a procrastinação ao rendimento escolar. Segundo Rita, o professor pode ter em sala de aula uma criança com boas notas, mas que depois de uma semana da avaliação não vai se lembrar mais do que escreveu, já que pessoas que têm o hábito de procrastinar encontram mais dificuldade em estabelecer estratégias de aprendizagem profundas.

Por isso ela defende que os professores da educação básica precisam ensinar as crianças e adolescentes a gerenciar seu tempo. "São necessárias uma orientação e regulação externas. Alguém para refletir com o aluno o melhor horário para fazer a lição de casa, onde ela deve ser feita, como a agenda deve ser organizada. Tarefas com prazos muito longos, por exemplo, precisam ser divididas em metas para o aluno não se perder", avalia.

Prevenção
O ditado popular não engana: mais vale prevenir do que remediar. Com esse intuito, o psicólogo Pedro Rosário criou o projeto Sarilhos do Amarelo: promoção da autorregulação em crianças sub10, o irmão mais novo de uma série de ferramentas educativas desenvolvidas pela equipe de investigação em autorregulação da Universidade do Minho em parceria com professores da Universidade de Oviedo, em Portugal.


A ideia é promover competências de autonomia e autorregulação da aprendizagem o mais cedo possível para ajudar as crianças a driblar, ou até mesmo evitar, a procrastinação e capitanear o aprender. "A autorregulação permite que o estudante desempenhe um papel ativo na aprendizagem, pesquisando, questionando, lendo, resolvendo problemas. Ou seja, indo além dos conteúdos concretos relativos às disciplinas", esclarece Rosário.

O projeto está ancorado na história das sete cores do arco-íris e dos demais seres que habitam o Bosque-sem-Fim. Certo dia, o Amarelo desaparece e seus irmãos saem em uma aventura em busca da cor. A história é escrita de forma que os professores possam trabalhar estratégias de aprendizagem com as crianças, como estabelecimento de objetivos, organização do tempo, trabalho em grupo, monitoramento das tarefas, tomada de decisões e avaliação dos processos.

Em determinado momento da jornada, por exemplo, as cores do arco-íris encontram a Formiga-General, que introduz o conceito PLEA (Planejamento, Execução e Avaliação). Ali, aprendem que para encontrar a cor desaparecida elas teriam primeiro que planejar suas ações, distribuir o tempo total pelas tarefas, monitorar a execução do plano e, por fim, avaliar se cumpriram seus objetivos a cada etapa concluída.

É importante lembrar que mesmo as crianças autorreguladoras não devem ser deixadas sozinhas no processo de ensino-aprendizagem. Pelo contrário, elas também devem buscar e encontrar o apoio necessário para alcançarem satisfatoriamente seus objetivos, de modo que o trabalho desenvolvido pelo projeto Sarilhos do Amarelo seja articulado não só pelos educadores, mas também pelas famílias.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Entenda por que o letramento precoce pode ser prejudicial

Aprender a ler e a escrever antes do tempo pode excluir etapas decisivas no 

desenvolvimento das crianças




O letramento precoce é um assunto permeado por controvérsias. Enquanto algumas instituições de ensino apostam em atividades ligadas à leitura e à escrita, outras defendem a ideia de que é preciso preparar a criança antes de abordar esse tipo de assunto.

Introduzida pelo filósofo e educador austríaco Rudolf Steiner (1861-1925) em 1919, a pedagogia Waldorf defende que os pequenos (com até 7 anos de idade) tenham apenas uma responsabilidade na escola: brincar. Ao participar de jogos e atividades lúdicas, meninos e meninas desenvolvem diversas habilidades, entre físicas e motoras, além de um estímulo essencial para a vida: a confiança. 

Segundo a teoria, nessa fase o aluno tende a gastar muita energia e se prepara fisicamente – isso é fundamental para o seu desenvolvimento neurológico e sensorial. Tais capacidades refletem em domínio corporal, linguagem oral e, principalmente, contribuem para a inteligência da criança.

Em poucas palavras: na educação infantil, aprimorar essas características é mais importante do que aprender a ler o próprio nome. “Eliminar atividades que favorecem a criatividade e o pensamento pode ter consequências graves. Infelizmente, muitas dessas práticas estão sendo substituídas pela escolarização antecipada”, alerta Luiz Carlos de Freitas, diretor da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Os ideais disseminados pelo croata têm ligação direta com estudos elaborados por outro profissional de renome na área, o psicólogo bielorrusso Lev Vygotsky (1896-1934). Ele dizia que a alfabetização é resultado de um processo longo e repleto de etapas, como gestos e expressões. Ao fazer um símbolo no ar, por exemplo, a criança já se manifesta a partir de uma linguagem mais próxima da escrita. Esse aprendizado gradual é imprescindível e deve acontecer nas classes de primeira infância, sem que atividades mecânicas de leitura e escrita atrapalhem ou forcem as etapas de desenvolvimento. “O letramento exige um grau muito grande de amadurecimento neuromotor. Desse ponto de vista, a criança só estará pronta para ser alfabetizada por volta dos 6 anos”, afirma Eliana de Barros Santos, psicóloga e diretora pedagógica do Colégio Global e da Escola Globinho. Segundo ela, brincar leva o aluno a compreender a si mesmo, seus sentimentos e o mundo em que vive. “Essa prática garante a formação das bases necessárias para a construção de outras linguagens”, comenta.

Estimular a leitura precoce, por sua vez, compromete tal formação. Além disso, pode ocasionar problemas como sobrecarga, deficiências na coordenação motora, apatia, desinteresse, desmotivação e estresse. “Aprender a ler não é simplesmente decifrar as letras, mas sim dominar um sistema simbólico, o que exige um grande amadurecimento neuropsíquico”, explica a diretora.

ANA

Essa discussão ganhou fôlego principalmente depois da implantação da Avaliação Nacional de Alfabetização (ANA), criada pelo Ministério da Educação (MEC) em 2013. Direcionada a estudantes do 3º ano do ensino fundamental de escolas públicas, a prova avalia os índices de alfabetização e letramento em língua portuguesa e matemática. O objetivo é verificar se as crianças são preparadas corretamente para uma nova fase da vida estudantil. No entanto, uma questão defendida por muitos profissionais da área é que a aplicação de uma prova desse porte pode não ser tão benéfica quanto parece e ter reflexos já nas classes de educação infantil.


De acordo com Sandra Zákia Sousa, professora da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), a ANA tende a fortalecer uma visão que já existe nas unidades escolares – a de que, na primeira infância, é preciso preparar os estudantes para a etapa seguinte, o ensino fundamental. “Fazer isso significa antecipar iniciativas relacionadas a processos de alfabetização e letramento, ou seja, o educador pula etapas importantes e passa a concentrar suas energias em algo que ainda não precisaria ser abordado”, diz.

Para Freitas, testes como a ANA deveriam acontecer apenas a partir do final do ensino fundamental. O formato também poderia ser diferente. O interessante, segundo ele, é que o método avalie as políticas públicas em geral e não a escola. “Um professor sabe muito bem em quais pontos seus alunos são bons ou não”, ressalta.

Pais podem contribuir

Ao mesmo tempo em que a instituição exerce um papel importante, os pais também devem redobrar o cuidado com o letramento precoce. De acordo com Sandra, a pressão pode começar a ocorrer dentro de casa, quando os familiares incentivam a criança a ler palavras ou a escrever nomes aleatórios. “É fundamental que todos se atentem a isso. No lar, bem como na escola, as atividades devem ser adequadas para a faixa etária”, diz.


terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Diabete infantil: como é a vida das crianças que foram diagnosticadas com a doença

Crianças com a doença hoje têm uma vida praticamente igual à das demais, mas o dia a dia na escola ainda é um grande desafio


"Meu filho nunca mais vai poder comer doce, ir a festinhas, não vai ter uma vida normal!” Para a boa maioria dos pais, é um choque receber o diagnóstico de que o pequeno tem diabetes tipo 1. Primeiro, porque a doença não tem cura e, por ser crônica, exige cuidados para sempre. Mas, mais do que isso, por muitos temerem que o filho será discriminado, que ficará isolado, que não terá a mesma vida que os coleguinhas. “Infelizmente, vários mitos e desinformação ainda cercam o diabetes, mas, lentamente, é algo que vem mudando”, afirma Luiz Eduardo Calliari, endocrinologista da Sociedade Brasileira de Pediatria e professor da Santa Casa de São Paulo.

O diabetes tipo 1 é uma das doenças crônicas mais prevalentes entre crianças e adolescentes (veja “O avanço da doença ainda é um mistério”). “Geralmente, é diagnosticado entre os 7 e os 15 anos de idade, mas, nos últimos anos, estamos observando casos em menores de 6”, conta a endocrinologista Denise Franco, diretora da Associação de Diabetes Juvenil (ADJ Diabetes Brasil). O controle é feito por meio da reposição de insulina – hormônio que o corpo para de produzir, exigindo aplicações diárias e frequentes através de uma pequena seringa – e da medição das taxas de açúcar do sangue. O teste, realizado com a coleta de uma gotinha de sangue tirada da ponta do dedo, é um dos mais importantes norteadores do tratamento, pois, se feito várias vezes por dia, permite tomar as medidas necessárias rapidamente, seja aplicando insulina para baixar a glicemia, seja dando açúcar para o pequeno, se ela estiver baixa. Tanto uma medida quanto a outra visam manter os níveis de açúcar mais equilibrados, evitando as oscilações que podem botar a vida da criança em risco e que, no longo prazo, podem trazer complicações.

Era dos avanços

Apesar de os cuidados precisarem ser duradouros e demandarem a aplicação de injeções e picadas no dedo, os avanços no tratamento foram imensos. “A cada ano, vemos mais melhoras, por conta de vários fatores. Hoje há um número enorme de alimentos diet, que permitem à criança comer o mesmo que os colegas. E ser igual aos demais é algo que conta muito para os pequenos e para os adolescentes”, diz o doutor Walter Minicucci, presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD). Ele completa: “As proibições também estão muito mais leves devido aos novos tipos de insulina e estratégias de tratamento, as seringas para aplicação de insulina atualmente são equipadas com agulhas bem curtas, que não machucam, assim como os aparelhos conseguem monitorar a glicemia com apenas uma pequena gota de sangue, o que significa uma picada praticamente sem dor. Assim, algo que era penoso já não é mais”. Segundo Calliari, todos os esforços foram feitos para que os diabéticos ganhassem qualidade de vida e não se sentissem restringidos ou apartados. “As limitações são cada vez menores, e eles podem comer as comidas gostosas que têm vontade e fazer praticamente de tudo.”

E a escola?

A vida das crianças com diabetes melhorou bastante, mas não se pode dizer o mesmo do seu dia a dia na escola. A falta de conhecimento sobre a doença – seja por parte da direção e dos professores, seja por parte dos colegas – e o medo de tomar uma providência errada ainda são as maiores pedras no sapato. “As crianças passam grande parte do tempo ali. Para os pais, é um sufoco, pois eles precisam ter a garantia de que ela será cuidada, o que nem sempre ocorre”, diz Denise.

Lisandra Paes, coordenadora pedagógica da escola municipal Prof. Derville Allegretti, no bairro de Santana, em São Paulo, admite que a imensa maioria dos profissionais não sabe o que é o diabetes. “Muito menos sabe reconhecer os sintomas de baixas taxas de açúcar no sangue, o que requer uma ação imediata. No caso de escolas públicas isso é ainda pior, pois nenhuma providência – seja tratar de uma hipoglicemia, seja dar insulina, porque a glicemia está alta – pode ser feita dentro do local. É preciso recorrer a uma Unidade Básica de Saúde (UBS), e, quase sempre, a criança é orientada a não voltar para a sala de aula naquele dia.”

Foi pensando em conscientizar professores e alunos e preparar a escola para lidar com a doença que a IDF, juntamente com a ADJ e a empresa farmacêutica Sanofi, lançou, em agosto, o projeto Kids. “Primeiramente, ele foi implementado na escola Prof. Derville Allegretti, que serviu como piloto, e, agora, será levado a mais 14 escolas – 13 no estado de São Paulo e uma no Ceará”, conta Denise. O material, com abordagem lúdica, foi feito para os diversos públicos-alvo: alunos de diferentes faixas etárias, professores e pais. “Não vamos falar só sobre o diabetes tipo 1, mas também sobre a importância de ter uma vida saudável, de se alimentar bem e de se movimentar para evitar a obesidade e o diabetes tipo 2”, declara a endocrinologista. “Todos têm de ter acesso a cuidados e apoio e o direito de ser incluído e participar com segurança das atividades escolares”, afirma David Chaney, especialista de educação sênior da IDF.

Suas dúvidas resolvidas
  • O que é hipoglicemia?

O açúcar (a glicose) é a principal fonte de energia do corpo. Assim, se o combustível do organismo está em falta, é natural que este se ressinta. Mãos trêmulas, suor, confusão mental, irritação e taquicardia são alguns dos sintomas mais comuns, mas não nas crianças. “É mais difícil perceber os sinais em uma criança, até porque ela muitas vezes não aprendeu a identificá-los. Geralmente, elas ficam mais irritadiças e sonolentas ou choram”, explica Luis Eduardo Calliari.

Taxas baixas de açúcar costumam acontecer quando a criança se exercitou sem se alimentar ou até se ela comeu muito pouco. É bom lembrar que, da mesma maneira que o corpo funciona basicamente abastecido pela glicose, o cérebro também. Um episódio severo de hipoglicemia pode fazer a criança desmaiar ou ter uma convulsão.
  • O que é hiperglicemia?
É o oposto da hipoglicemia, ou seja, altas taxas de açúcar no sangue. É uma das maiores causas de morte entre crianças com diabetes. Níveis tão altos de glicose sanguínea podem acontecer em algumas situações: quando a criança tem a doença, mas ainda não foi diagnosticada; quando o controle é ruim; ou como resultado de alguma outra doença ou uso de determinados medicamentos, que podem fazer a glicemia subir. Entre os sintomas estão sede, perda de peso, cansaço, idas frequentes ao banheiro para fazer xixi (os rins trabalham mais para eliminar o excesso de açúcar do sangue) e boca seca. Se a hiperglicemia não for controlada, pode levar a náuseas, vômito, confusão e até coma. Mas é bem fácil tratá-la. Basta administrar insulina suficiente para fazer os níveis de açúcar caírem e dar bastante água à criança.
  • Devo contar para o meu filho que ele tem diabetes?
Honestidade é sempre a melhor política. Ao conhecer a condição que ele carrega, fica mais fácil pedir ajuda quando apresentar um quadro de hipoglicemia ou cetoacidose - quando há falta de insulina e o corpo não consegue usar a glicose como fonte de energia, as células utilizam outras vias para manter seu funcionamento. Claro, a doença deve ser explicada em uma linguagem que seja facilmente compreendida. Profissionais de saúde que lidam com o diabetes ou entidades como a ADJ podem ajudá-la com isso.
  • O que é contagem de carboidratos?
É uma das estratégias para planejar a alimentação e manter os níveis de açúcar no sangue o mais próximos do normal possível. O método revolucionou o tratamento do diabetes. Basta contabilizar os gramas de carboidrato que foram consumidos na refeição e fazer uma conta simples (é o médico quem determinará que conta é essa) para saber quanta insulina deverá ser aplicada para cobrir aquilo que foi ingerido. Assim, não se fala mais em comida ou dieta do diabético. A contagem de carboidrato, que acompanhou o aparecimento de novos tipos de insulina, permitiu a quem tem a doença comer praticamente tudo aquilo que tem vontade.
  • Meu filho pode fazer qualquer esporte?
Pode, desde que monitore a glicemia antes e se alimente. Se a atividade for puxada e demorada (uma partida de futebol, por exemplo), é importante medir a taxa de açúcar sanguíneo no intervalo do jogo, por exemplo, e, se for o caso, comer antes de ele recomeçar.
  • Meu filho pode ficar cego por causa do diabetes?
Como qualquer doença crônica, que precisa ser acompanhada por toda a vida, as complicações são decorrentes do bom ou do mau controle. Mas, segundo o doutor Minicucci, com a chegada de insulinas mais modernas, o controle da doença melhorou muitíssimo. “Agora, a adolescência é, de fato, a fase mais complicada, pois o jovem muitas vezes não aceita realizar os procedimentos e acaba dificultando o tratamento.”
  • Em que momento o meu filho pode começar a fazer o controle sozinho?
“A partir dos 8 ou 9 anos, a criança já pode fazer a ponta de dedo sozinha, sempre com a supervisão de um adulto”, explica a doutora Denise Franco, diretora da ADJ. Por volta dos 12 anos, ela também poderá aplicar insulina sozinha, também com supervisão. Ao chegar à adolescência, o jovem já é capaz de tomar as rédeas do seu tratamento.