terça-feira, 30 de setembro de 2014

Identificação e estabilidade levam filhos a seguir a carreira dos pais

Quando criança, Gustavo do Vale Gomes, de 36 anos, era apaixonado pelos animais e, por conta disso, sonhava em ser um grande biólogo. Mas seu pai, Enio de Freitas Gomes, de 62 anos, queria mesmo é que o filho seguisse seus passos, para se tornar um grande médico. "Meu pai nunca me proibiu de fazer minhas próprias escolhas, mas, quando eu falava sobre biologia, logo o ouvia dizer que, em medicina, também se aprendia muita biologia", lembra Gustavo, que, motivado pela família, acabou se rendendo à medicina. O mesmo ocorreu com seu irmão mais velho.
De fato, os pais são grandes influenciadores na formação profissional dos filhos. "A transmissão de uma profissão de geração em geração se dá, principalmente, pelo intenso convívio do jovem com aquele ofício, pela observação do amor dos familiares pela carreira e pelos valores diretamente relacionados à atividade que são recebidos ao longo da vida", explica Alyane Audibert Silveira, psicóloga especializada em aconselhamento de carreira pela UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul).
Na faculdade de medicina, Gustavo até tentou traçar outros rumos, mas, depois de um estágio na clínica da família, acabou optando pela mesma área do pai. Com o tempo, tomou a frente dos negócios. "Meu pai nunca me disse, literalmente, que eu daria continuidade ao patrimônio construído por ele. Mas eu sempre tive em mente que, cursando medicina, eu teria condições de fazer isso", afirma Gustavo.
Esse é outro ponto importante. Boa parte do incentivo que vem dos pais tem a ver com o desejo deles de entregar nas mãos de alguém de extrema confiança um negócio próspero e consolidado, que exigiu muita dedicação e esforço para ser construído, conforme explica Dulce Helena Soares, psicóloga do Laboratório de Informação e Orientação Profissional da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina).

Consonância de objetivos e valores

Por outro lado, a psicóloga Alyane afirma que, embora os pais possam e devam ajudar os filhos na escolha da carreira, é imprescindível que isso ocorra de maneira tranquila, sem imposições. "O ideal é que eles discutam de forma aberta, que os filhos possam perceber os reais desejos e expectativa dos pais e os pais, por sua vez, possam entender com clareza os interesses e sentimentos dos filhos".
Escolher a mesma profissão dos familiares levando em conta apenas a oportunidade de crescimento rápido ou a estabilidade pode ser um erro fatal. "É preciso que os sonhos, as habilidades e os valores do jovem sejam coerentes com o ofício escolhido. E, para analisar se existe essa compatibilidade, é fundamental investir no autoconhecimento", declara José Roberto Marques, presidente do IBC (Instituto Brasileiro de Coaching).
Filhos que assumem a profissão dos pais, por imposição ou comodismo, poderão sofrer consequências negativas. "O risco é que se tornem pessoas infelizes e insatisfeitas por não exercerem aquilo que desejam, o que pode desencadear problemas emocionais, físicos e psicológicos, como depressão, ansiedade, compulsões e estresse", afirma Marques. Por isso, o essencial é dar liberdade para que os filhos façam as próprias escolhas, sem deixar de apoiá-los e orientá-los, ajudando-os a tomar decisões mais acertadas.

Cobrança em dobro: o outro lado da moeda

No caso do dentista Felipe Delgado, de 32 anos, contar com o apoio do pai, o também dentista Lauro Delgado Junior, de 54 anos, foi um fator facilitador, que ele não faz a menor questão de ignorar. "Desde os 13 anos eu acompanho meu pai ao consultório e, com a convivência, não foi difícil me apaixonar pela profissão. Por isso, resolvi seguir o mesmo rumo", diz.

Graças a essa convivência, ele já entrou na faculdade com algumas vantagens em relação aos demais. "As matérias que eu aprendia em sala de aula eram, na realidade, um complemento do que eu já via na prática clínica", diz o dentista. Depois de formado, Felipe entrou no mercado de trabalho usando um sobrenome que já era respeitado na área. Mas admite que, mesmo assim, o começo não foi fácil. "A cobrança é muito maior por parte dos pacientes, porque eles já estão acostumados a serem muito bem atendidos", afirma.
A irmã mais nova de Felipe, Pétala Mantelatto Delgado Bragatto, de 30 anos, também se encontrou na carreira de dentista. Apesar disso, garante que o pai sempre a deixou à vontade para seguir outros caminhos. "Tanto isso é verdade que meus irmãos mais novos foram para áreas totalmente diferentes da odontologia. Um deles é tatuador e o outro está estudando para ser músico", diz.
Segundo os especialistas no assunto, esse tipo de exemplo permite afirmar que as aptidões não são determinadas por fatores genéticos, mas são fortemente influenciadas por questões comportamentais. "O fato de os pais serem bons em suas profissões não é garantia de que os filhos também serão. Há muitas questões subjetivas envolvidas, que têm a ver com as competências e habilidades de cada jovem, os anseios pessoais e profissionais que são desenvolvidos ao longo da vida", afirma José Roberto.

Profissões iguais, carreiras diferentes

Escolher a mesma profissão de outros familiares não implica, necessariamente, no desejo de seguir exatamente a mesma trilha de passos dados por eles. "A repetição pode se constituir em uma oportunidade de seguir a linhagem familiar, com os mesmos valores, prestígio e certa estabilidade e segurança, mas também de evoluir e criar sobre aquela atividade, diferenciando-se e crescendo muito mais", diz a psicóloga Alyane.
Na família de Juliana Gevaerd, de 28 anos, toda formada por advogados, foi exatamente isso o que aconteceu. "Sempre vivi rodeada pelas questões do direito. Por isso, acabei me apaixonando", afirma a advogada, que tem quatro irmãos que também são colegas de profissão.
"Eu sou o primeiro advogado da minha família. Tenho 35 anos de carreira e não nego que fiquei muito satisfeito com a escolha de meus filhos", conta Luiz Fernando Gevaerd, pai de Juliana, advogado e presidente da Comissão de Direito de Família da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) da Barra da Tijuca.Dos cinco filhos de Luiz, apenas Juliana escolheu a mesma área de atuação. Seus irmãos mais velhos, Luiz Gustavo, de 43 anos, e Carlos, de 39 anos, são especializados em direito civil. A irmã mais nova, Raffaela, de 24 anos, optou pelo direito empresarial. O caçula, Matheus, de 18 anos, acaba de ser aprovado no vestibular para cursar direito.
"Todos os meus filhos começaram a carreira no meu escritório, mas só a Juliana permaneceu. Hoje em dia, ela integra a minha equipe de advogados especializados em Direito de Família. E eu me sinto feliz em saber que servi de fonte de inspiração para todos eles", diz o pai.
O advogado também tem consciência da responsabilidade que isso representa. "Tenho cinco pares de olhos me observando. Exercer a advocacia é tarefa que exige bastante desprendimento e dedicação. Somos exemplos uns para os outros", diz. E, pelo visto, a vocação para o direito já alcançou a terceira geração. A neta de Luiz, de apenas 14 anos, já expressou, por diversas vezes, interesse na carreira. Uma iniciativa comemorada por todos os que vieram antes dela.

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Cozinha é lugar de criança?

Veja como fazer do espaço mais gostoso da casa um lugar de aprendizado e diversão

Levar a criança para a cozinha é uma das formas mais práticas para fazê-la se interessar por uma alimentação saudável. E não é só isso: participar de tarefas como fazer a mesa, secar a louça e organizar os talheres também ajuda a formar filhos mais responsáveis.
Dentre as habilidades que os pequenos desenvolvem durante as atividades culinárias estão a concentração, a organização, a autonomia, a voracidade, a capacidade de esperar, o desenvolvimento do paladar e a autoestima.
Segundo Fernanda de Camargo Viana, psicóloga do Hospital e Maternidade São Luiz, não há uma idade certa para convidar a criança para participar das tarefas na cozinha. “Ela pode ajudar desde as atividades mais simples, como organizar os guardanapos, até as mais complexas, como cortar legumes. Mas antes é preciso respeitar as habilidades e capacidades de acordo com a idade”, alerta.
Experimentando novos sabores
Mostrar aos pequenos como são os alimentos e o modo de preparo é uma maneira eficaz de despertar o interesse em experimentá-los – é o que explica a nutricionista Cristiane Cedra. “Esse aprendizado de consistência, cheiro e sabor é imprescindível para a melhora da aceitação alimentar”, diz.
Esse contato faz com que o momento se torne ainda mais interessante para a criança. “Os pais precisam aproveitar a oportunidade para trabalhar com ingredientes saudáveis e introduzir aos filhos uma maior variedade de alimentos”, completa a nutricionista.
Mas para que o seu filho curta ainda mais a experiência, transforme-a numa brincadeira. Conte a ele a origem dos alimentos e peça para ele enfeitar o prato. Assim, as crianças ficarão super envolvidas com a atividade.
Hora de pôr a mesa
À medida que vão crescendo, é possível estabelecer algumas tarefas da cozinha, como pôr a mesa e secar a louça, por exemplo. São atividades simples e que podem fazer a criança conviver ainda mais em família.
A psicóloga Fernanda de Camargo Viana explica que esta atividade só terá sucesso se feita de forma convidativa. “Os pais devem transformar o momento numa brincadeira. Tudo o que é imposto como obrigação faz a criança perder o interesse, e essa não é a ideia”, diz.
Faça da cozinha um ambiente de convivência familiar. Assim, as crianças estarão sempre a postos para transformar as refeições num momento prazeroso entre pais e filhos. Bom apetite!

terça-feira, 16 de setembro de 2014

10ª edição da Manhã Cultural


No último sábado, dia 13, o Colégio Conviver realizou a 10ª edição da Manhã Cultural, que teve este ano como tema: "Os Cinco Sentidos".

O evento contou com a participação de dezenas de pais e familiares, que prestigiaram os trabalhos produzidos pelos alunos da educação infantil e do ensino fundamental, durante todo o dia.

Os convidados assistiram ainda a apresentação musical da banda "Eu cidadão", além de conferirem a feira de livros.












quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Auditivo, visual ou cinestésico: identifique qual é o modo de aprendizagem do seu filho

As pessoas não são iguais - cada uma adquire conhecimento de um jeito diferente. Identifique qual é o modo de aprendizagem do seu filho para facilitar a vida dele na escola e em casa.


Na sala de aula, o professor fala, explica, dá exemplos e o seu pequeno não entende? Calma, de repente ele é do tipo que aprende mais brincando do que ouvindo... Seja para ler, escrever, praticar um exercício físico, participar de um jogo, seja para executar um trabalho inusitado, ao conhecermos algo usamos uma estratégia pessoal para registrar a novidade. E isso acontece da infância à fase adulta. Para algumas pessoas, basta escutar com atenção (aprendizagem auditiva); para outras, é preciso visualizar imagens (aprendizagem visual); e ainda há quem precise colocar em prática tudo aquilo que viu e ouviu (aprendizagem cinestésica).
A psicopedagoga Sirlei Bernardes, de Campinas (SP), especializada em dificuldade de aprendizagem, explica que todo mundo possui esses três sistemas, entretanto, um deles é predominante. “Independentemente da forma de absorção, as crianças e os adolescentes também aprendem por imitação, por isso os hábitos familiares funcionam como exemplos importantes e, portanto, devem ser saudáveis”, ressalta a professora Onaide Schwartz Correa de Mendonça, do curso de Pedagogia da Universidade Estadual Paulista (Unesp), de Presidente Prudente (SP).

Auditivo: vale mais escutar

A criança se identifica muito com sons e gosta de ouvir com atenção e em silêncio o que outras pessoas estão falando. Ao processar a informação que está ouvindo, ela tende a ficar com os olhos fixos e é nítido perceber que os seus pensamentos não param.
Faça: utilize músicas didáticas, converse sobre algo que queira ensinar e leia histórias para que o seu filho aprenda um novo vocabulário, por exemplo. Também vale ditar textos para ele escrever ou colocar CDs educativos para ele ouvir e depois repetir. Em casa, leia com a criança quais são os deveres e os direitos de cada um. Uma boa técnica é fazer o seu filho ler em voz alta o que deve ser memorizado ou conversar com os amigos sobre os conteúdos da sala de aula.
Evite: ruídos no ambiente, que atrapalham a escuta, e estímulos auditivos rápidos, que não são convertidos em aprendizado por esse perfl.

Visual: imagem é tudo

O seu filho tem mania de observar e identificar cores, desenhos, imagens? Então ele tem memória fotográfica. Esse tipo de aluno prefere aprender lendo textos e vendo gráficos, diagramas, fórmulas..., pois lembra facilmente de situações ou informações a partir das imagens. Ele costuma recordar melhor as informações quando as lê silenciosamente.
Faça: ajude o seu filho procurando recursos visuais sobre as matérias estudadas. Estimule-o a construir imagens mentais dos conteúdos que estiver estudando — ou sugira que ele desenhe o que acabou de aprender. Deixe sempre à mão livros e revistas e recomende a leitura para facilitar o aprendizado.
Evite: o exagero de estímulos visuais, pois uma grande quantidade de informações recebidas pode acabar provocando distração.

Cinestésico: mão na massa

O importante para ele é usar a expressão corporal. O cinestésico prefere atividades práticas na hora de aprender, gosta de se mover, de tocar... Enquanto escuta uma explicação, é comum olhar para baixo, como se estivesse distraído. Gosta de esportes, dança, construção ou destruição (sim, se o seu filho desmonta brinquedos ou aparelhos para ver como funcionam, ele tem esse perfil).
Faça: sugira uma experiência relacionada ao que foi ensinado, como plantar uma semente para entender o processo de inseminação. Como a experiência motora é essencial, faça o seu flho mudar de posição quando estiver lendo (deitar na cama, sentar na cadeira ou no chão...) e indique livros com orientação de tarefas.
Evite: estímulos visuais e auditivos conflitantes, pois distraem. Se a criança se sentir "amarrada", ficará limitada e perderá a vontade de assimilar o conteúdo ensinado.

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Criança transexual não deve ser reprimida e precisa de apoio familiar

Nos últimos anos, têm ganhado espaço nos veículos de comunicação as notícias de crianças que, ainda muito pequenas, revelam o que os especialistas chamam de "inadequação de gênero", apresentando um comportamento oposto ao que a sociedade associa ao sexo com o qual nasceram. É o caso da norte-americana Ryland, 6 anos, cuja história se popularizou na internet. Ryland nasceu menina, mas, logo que aprendeu a falar, uma de suas primeiras frases foi: "sou um menino".


A criança detestava o cabelo comprido e as roupas femininas. Seus pais, Jeff e Hillary Whittington, acharam que era apenas uma fase. O momento decisivo ocorreu quando, aos cinco anos, chorando, ela perguntou aos pais: "Por que Deus me fez assim?". Depois de pesquisas e consultas a especialistas, o casal chegou à conclusão de que Ryland era transgênero, ou seja, embora tivesse nascido com anatomia feminina, seu cérebro a identificava com o gênero masculino. Desde então, a criança é tratada como filho. Teve os cabelos cortados como desejava e usa roupas de menino.

Outro caso que teve grande repercussão nos Estados Unidos foi o de Coy Mathis, menino de seis anos que, desde os 18 meses, age como menina. Aos quatro, ele disse aos pais que "havia algo de errado com seu corpo" e começou a ficar deprimido ao se ver com roupas masculinas.
Os pais permitiram que a criança começasse a se vestir como menina e, no ano passado, conquistaram na Justiça o direito de Coy de usar o banheiro feminino da escola.  

Não é doença

Segundo o psiquiatra Alexandre Saadeh, coordenador do Ambulatório de Transtorno de Identidade de Gênero e Orientação Sexual do Hospital das Clínicas da USP (Universidade de São Paulo), o fenômeno surge, geralmente, por volta dos três anos, que é quando a identidade de gênero se estabelece.

Chamado popularmente de transexualismo, o fenômeno é conhecido nos meios acadêmicos como Transtorno de Identidade de Gênero ou, mais recentemente, como Disforia de Gênero (a palavra disforia pode ser compreendida como indisposição ou mal-estar), mas existe, em todo o mundo, um debate acerca da necessidade de não tratar a transgenerismo como uma doença.

"O transgenerismo não constitui nenhuma espécie de patologia", afirma a psicanalista Letícia Lanz, cujo nome de batismo era Geraldo. Só aos 50 anos, ela assumiu sua identidade feminina.

Geraldo era um bem-sucedido consultor empresarial que, quando adotou nome e roupas femininas, perdeu todos os clientes e teve de recomeçar do zero. Tornou-se psicanalista e, recentemente, obteve um mestrado em sociologia pela UFPR (Universidade Federal do Paraná) com a pesquisa "O Corpo da Roupa: a Pessoa Transgênera entre a Transgressão e a Conformidade com as Normas de Gênero".
"Não sou doente, nem física nem psiquicamente", afirma Letícia. "Esse diagnóstico não é meu, mas do meu psiquiatra e analista, do meu cardiologista e da minha endocrinologista. Doente é a sociedade que sempre exigiu que eu reprimisse a essência de mim mesma apenas para adotar um modelo de existência incompatível com a pessoa que sou."  

Nem todo transgênero é homossexual

A psicanalista diz que uma pessoa é transgênero quando, de maneira superficial ou profunda, em caráter esporádico ou de maneira definitiva, não se identifica com a classificação de gênero constante da sua certidão de nascimento. E esclarece que o transgenerismo não é sinônimo de homossexualidade.

A psicanalista explica que um transgênero pode ter orientação sexual hetero, homo, bi ou assexual, exatamente como acontece com qualquer pessoa. "Sou uma mulher transgênera casada com uma mulher cisgênera (cuja identidade de gênero está em consonância com o seu sexo) há 38 anos, sendo pai de três filhos e avô de três netos." 

Experimentações são normais

Na primeira infância, é natural a curiosidade do menino por roupas e objetos tradicionalmente ligados ao universo das meninas e vice-versa. Mas, se um garoto, ocasionalmente, veste a roupa da mãe, isso não significa que ele seja transgênero.

"Os pais devem tomar cuidado de não reprimirem e, sim, introduzirem comportamentos do sexo em que a criança nasceu, mas respeitando a vontade dela. Se for somente experimentação, isso cederá rapidamente", diz o psiquiatra Alexandre Saadeh.

Contudo, quando a criança se identifica muito fortemente com o gênero oposto e faz birra ou fica deprimida na hora de vestir as roupas identificadas socialmente ao sexo no qual nasceu, é possível pensar que exista Transtorno de Identidade de Gênero.

"O interessante é acompanhar ao longo do tempo para perceber se esse comportamento permanece. Quando os pais reprimem muito, a criança percebe seu comportamento como errado e busca viver no gênero que os pais querem. Mas isso vai causar sofrimento e dificuldades de relacionamento", afirma Saadeh.

Jeff e Hillary Whittington, os pais de Ryland, só se decidiram a criar a filha como menino quando, em suas pesquisas, descobriram a alarmante informação de que 41% dos transgêneros tentam suicídio devido à falta de aceitação social. E, na população em geral, esse índice é de 4,6%. A pesquisa foi divulgada, em janeiro de 2014, pelo Instituto Williams, pertencente à Escola de Direito da UCLA (Universidade da Califórnia). 

Sofrimento e suicídio

"O sofrimento a que as pessoas trans estão submetidas as leva, muitas vezes, a pensar em suicídio", confirma a psicóloga Judit Lia Busanello, diretora do Ambulatório de Saúde Integral para Travestis e Transexuais do Centro de Referência e Treinamento em DST/Aids-São Paulo.

A psicóloga afirma que o processo de adequação à verdadeira identidade de gênero é muito delicado e deve ser acompanhado de perto tanto pela família quanto por profissionais especializados.
Para Letícia, o que os pais jamais devem fazer é colocar ou permitir que coloquem rótulos nos seus filhos. "Seja lá o que eles forem diante dos códigos da sociedade, a família deve acolhê-los como eles são e ensiná-los a ter orgulho de ser gente."

terça-feira, 2 de setembro de 2014

Uso excessivo de tecnologia prejudica habilidades sociais das crianças

Novo estudo mostra que jovens em contato constante com dispositivos eletrônicos tiveram mais dificuldades em decifrar emoções de outras pessoas através da leitura facial


Tablets, smartphones e outros aparelhos digitais já fazem parte da rotina de entretenimento e educação das crianças. Seja por meio de uma proposta pedagógica ou não, os pequenos aprendem a manusear os aparelhos cada vez mais cedo. Mas será que essa interação pode ter algum efeito negativo no desenvolvimento infantil?

Não existem muitos estudos sobre o uso de aparelhos digitais pelas crianças, mas um dos mais recentes feito por especialistas da Universidade da Califórnia, em Los Angeles, aponta que o cenário não é muito animador. A pesquisa foi realizada com crianças de 11 a 12 anos e revelou que as habilidades sociais delas estão diminuindo por conta do uso assíduo desses aparelhos.

Erro de identificação

Segundo os pesquisadores, alunos que passaram cinco dias sem acesso a dispositivos eletrônicos tiveram um desempenho melhor para decifrar as emoções de outras pessoas através da leitura facial do que os jovens que fizeram uso desses aparelhos.

Durante esses dias, 105 crianças foram avaliadas. O primeiro grupo, que ficou isolado, precisou avaliar 48 imagens de rostos com expressões emocionais variadas, como alegria, tristeza, raiva e medo. Eles também assistiram a vídeos com atores interpretando as emoções descritas acima.
Depois das experiências, as crianças precisaram entregar aos professores as respostas relativas às imagens e aos vídeos assistidos. A taxa de erros de identificação entre as que frequentaram o primeiro grupo caiu de 14.02% para 9.41%. Entre os alunos que continuaram com os aparelhos eletrônicos, essa taxa de erros permaneceu praticamente igual.

“Aparelhos eletrônicos e a própria internet não são bons nem maus, depende do uso que fazemos deles. Nada em excesso é saudável. Algumas crianças ficam tão dependentes dessa interação digital, com redes sociais e jogos online, que começam a apresentar prejuízos significativos na vida escolar, social e familiar”, atenta Cristiane Lorga, psicóloga e especialista em intervenção familiar.

Muitas vezes, esses aparelhos são usados equivocadamente pelos pais. Quando a criança está inquieta ou precisa de atenção, acabam sendo entretidas com tablets e smartphones, para não “incomodar” os pais. É aí que o uso abusivo pode ser interpretado como algo natural pelos filhos.

“Isso é muito negativo. Inconscientemente, os pais impedem que criança tenha uma troca afetiva com a família. Filho saudável é aquele que dá trabalho, que precisa do acolhimento e dos limites dos adultos”, reforça Maria Eduarda Vasselai, psicóloga infantil.

Desequilíbrio

Uma das preocupações dos educadores infantis tem relação com a presença dos smartphones em sala de aula. Por estimular diferentes zonas cerebrais simultaneamente, o uso excessivo desses aparelhos diminuiria a capacidade de se concentrar e prestar atenção ao conteúdo passado em sala de aula.

Segundo Cristiane Lorga, a criança pode apresentar sinais de ansiedade e irritabilidade, sendo diagnosticada com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), em casos mais extremos. Mesmo assim, é preciso avaliar com muito cuidado os sintomas apresentados. Dispersão não é sinal de que os filhos tenham algum tipo de transtorno ou doença por conta dos aparelhos eletrônicos.

Aproximação de pais e filhos

A dificuldade para ler emoções compromete as relações sociais e promove um isolamento social. As crianças precisam da interação na vida real para vivenciar experiências que nenhuma tela touchscreen pode oferecer. Para os especialistas, a comunicação cara a cara continua sendo o método mais eficiente para criar laços afetivos com familiares e amigos.

Pessoas em geral, sejam elas adultos ou crianças, precisam de um tempo livre dos aparelhos digitais. Isso não significa que eles precisem ser combatidos ou vistos com tanta resistência por pais e especialistas. É possível trabalhá-los de forma construtiva na educação dos pequenos.

“O equilíbrio seria se os pais aproveitassem a rapidez e inteligência dos filhos para descobrir coisas novas, aprendendo juntos. A tecnologia pode melhorar a aproximação entre adultos e crianças, se utilizada com bom senso”, defende Cristiane Lorga.

FONTE: Delas.ig.com