Não deixar a criança brincar por medo que ela se machuque ou evitar que resolva seus próprios conflitos são indícios de que você pode estar exagerando
Proteger uma criança é obrigação dos pais, mas onde termina o cuidado e começa o exagero? Esse limite não é explícito, mas o dia a dia da família pode fornecer pistas. Se a mãe ou o pai prefere dar comida na boca do seu filho quando ele já tem idade para fazer isso sozinho, é o momento de repensar as atitudes.
“Fazer pela criança algo que ela já é capaz é uma situação bastante comum de superproteção dos pais. Amarrar o sapato ou comer, por exemplo. Não estamos falando de deixar a criança sozinha, e sim de dar a oportunidade que ela mesma faça o que é capaz”, esclarece Gisele Magnossao, diretora do colégio Albert Sabin.
A pedagoga Jaciara Barbosa de Oliveira, 41, mesmo sabendo que a idade do filho permite que ele seja bastante independente, admite que nem sempre consegue deixá-lo mais livre. “O João Victor já tem seis anos, mas quando estamos em casa tento fazer tudo por ele. Acho que tento compensar minha ausência durante o dia. Penso que ‘não custa nada’ fazer aquilo. Na escola ele faz tudo sozinho então sei que ele é capaz. É errado, mas é automático”, confessa.
Sinais de superproteção
“Eu tenho uma presença muito forte na vida dos meus filhos. Estou sempre de olho. Quando o mais velho tinha cinco meses, a babá comentou com minha mãe que nunca tinha carregado o João”, conta a administradora de empresas Jamile Nery, 34.
Para o pediatra e neonatologista do Hospital Albert Einstein e diretor do Instituro Saúde Plena, Jorge Huberman, esse aumento da preocupação com a integridade física das crianças não é incomum já que a violência nas grandes cidades é mais presente hoje em dia do que na infância dos pais. “Estamos em tempos mais violentos e os pais acompanham de perto a vida dos filhos, monitoram mesmo. Entretanto, precisamos entender que assim como os adultos, as crianças sempre vão correr algum risco seja dentro ou fora de casa.”
Nem sempre correr riscos significa um prejuízo para a criança. Um risco de brincar, por exemplo, é cair. Não deixar o filho interagir e experimentar brincadeiras próprias da idade é impedir que ele aprenda coisas novas. “Se por medo de cair um pai impede o filho de brincar, a criança deixará de aprender o que a brincadeira tem a oferecer. A gente só aprende a lidar com conflitos e adversidades quando somos expostos a elas”, afirma Gisele.
Observar o comportamento da criança também dá pistas de uma possível superproteção, segundo Jorge. Comportamento arredio, indisposição para sair de casa, pouca ou nenhuma atividade externa, dificuldade de se comunicar ou expressar sentimentos fazem parte da lista de comportamentos a serem observados. “Eles não ocorrem ao mesmo tempo necessariamente”, diz Jorge.
Frustrações
Jamile admite a superproteção física dos filhos, mas evita blindá-los das frustrações do dia a dia. “Tenho enorme zelo pelos meus filhos, admito. Mas não interfiro ou brigo por eles. Sei que não posso evitar que eles passem por frustrações”, afirma.
Deixar a criança resolver alguns conflitos como disputar a posse de um brinquedo com o colega é saudável. Quando os pais interferem demais os filhos não adquirem uma habilidade importante na infância: alterar privilégios. “Uma criança que não sabe lidar com frustrações pode se tornar mais egocêntrica e irritadiça. Normalmente ela também chora bastante”, explica Gisele.
Consequências diretas
Os especialistas apontam duas conseqüências diretas da superproteção: perda de autonomia e a falta da capacidade de adaptação em situações adversas. Além disso, o grupo social da criança pode não aceitá-la justamente por apresentar um comportamento mais egocêntrico.
“A criança pode ter dificuldade de se relacionar com estranhos. Não conseguem, por exemplo, ir ao banco ou mercado”, diz Jorge. Também podem se tornar reclusas em excesso e se isolar.
Confira algumas atitudes comuns de pais superprotetores:
- Impedir a criança de brincar com brinquedos compatíveis com a idade por medo que ela se machuque: um joelho ralado no parquinho do prédio não é o fim do mundo.
- Não permitir que a criança assuma consequências de suas escolhas: se o seu filho não quer estudar, você não deve fazer os deveres de casa por ele. É importante deixar a criança vivenciar uma nota baixa ou uma dificuldade na escola como resultado das suas escolhas.
- Fazer pela criança coisas que ela já consegue. Deixe que ele se troque ou coma sozinho se já for capaz.
- Interferir muito além do razoável nas relações do filho com outras crianças. Alguns conflitos pedem mediação, mas deixar que elas resolvam sozinhas coisas mais simples, como a posse de um brinquedo, é saudável.
FONTE: Delas.ig.com.br
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