Tenho visitado muitos Centros de Educação Infantil em Toronto. E venho me impressionando como as famílias são de fato consideradas parceiras na educação e cuidados das crianças pequenas por aqui! Dessa forma, a educação parece ser mais holística, em que familiares e profissionais esforçam-se por integrar, no cotidiano institucional, as diversidades e individualidades de cada criança.
De acordo com os documentos oficiais do Ministério da Educação, todos os dias, milhares de crianças e suas famílias são recebidas por profissionais especializados em comunidades e centros diversos em todo o estado de Ontario. Há dez anos, a província tem investido na melhoria dos serviços educacionais para a primeira infância, por considerar essa faixa etária como a mais importante no desenvolvimento de cidadãos saudáveis, participantes, criativos e inovadores. Por isso, está sendo implementada desde então, ano após ano, uma política específica para os primeiros anos de forma que as crianças comecem a vida da melhor maneira possível. A política está baseada em vários programas, dos quais destaco três: (1) garantir salas de pré-escola em período integral, propiciando que todas as crianças de 4 a e 5 anos ingressem no sistema educativo e tenham suas necessidades atendidas; (2) implementar o programa “Best Start Child” (melhor começo para as crianças) e os centros de atendimento às famílias; (3) criar condições institucionais para que as crianças desenvolvam competências e habilidades linguísticas para falar inglês. Estes três programas buscam responder demandas importantes das famílias, principalmente em Toronto, que é considerada a cidade com maior número de imigrantes do planeta e que se tornam cidadãos canadenses mantendo suas línguas, religiões e hábitos diversos.
Como integrar a diversidade em um projeto coletivo senão por meio do trabalho com as crianças? Para isso, o Ministério, em parceria com o Estado e as municipalidades, estabeleceu um sistema de regulação no qual todas as instituições devem ser credenciadas a partir de uma avaliação que torna pública sua qualidade por meio de um selo afixado na porta de cada Centro. Assim, os pais, as mães e outros familiares podem checar a qualidade do Centro que seus filhos freqüentam, compreendendo aspectos relativos à saúde e segurança; programação dos ambientes físicos; programação de educação infantil; gestão pública; financiamento público e, finalmente, o que nos importa nessa conversa: como se dá a parceria com as famílias.
Estagiei em um Centro Cooperativo associado à Universidade de Toronto que leva às últimas consequências a parceria efetiva dos profissionais da educação e das famílias – estudantes, funcionários e professores cujos filhos frequentam o Centro. Sua gestão é coletiva e a proposta pedagógica, ainda que siga o programa governamental, é discutida com os adultos que, tal como as crianças, beneficiam-se da instituição. Como? Todos os dias, de maneira gostosa e divertida, pais e mães participam das atividades infantis, seja tocando violão para a turma de seus filhos ou fazendo um bolo como sobremesa. Não existe um período determinado da adaptação da criança ao Centro. O pai ou mãe pode fazer companhia a ela até que se sinta confortável em seu novo ambiente de exploração, brincadeiras e aprendizagens. Vale acrescentar que observei um número grande de adultos em interação com as crianças, não só nesse Centro como em vários outros. No início me perdi na diversidade de interações presentes nas salas, buscando uma lógica pedagógica e institucional. Aos poucos percebi que a vida é levada lá para dentro e, com organização e sentido, as crianças aprendem a conviver na diversidade, sem pautas escolares nem agenda extensiva e extenuante. As crianças e os bebês enriquecem, assim, suas experiências, contando com os pais e educadores como parceiros em sua entrada gradativa no rico mundo cultural pré-estabelecido.
Gisela Wajskop é socióloga, mãe de Felipe, 30, e
Marcelo, 16. Ela sempre trabalhou com ensino infantil e tem mestrado
sobre a brincadeira na escola pública e doutorado sobre como formar
professores para estimular a diversão das crianças, ambos pela USP. Quer
escrever para Gisela? Envie seu e-mail para redacaocrescer@gmail.com - no assunto da mensagem escreva Educar para a Vida.
FONTE: Revista Crescer
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