O Bem Viver conta a história de pessoas que se uniram pela afinidade e pelo prazer de estar juntas
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A turma do Petegolo, que existe há 38 anos, é formada por cerca de 30 amigos entre 54 e 79 anos | | |
O que seria da vida sem os amigos? Pode ter certeza de que, na solidão,
seria muito mais sem graça. Está comprovado que conviver com pessoas
queridas afasta doenças, melhora a autoestima e alegra o dia a dia. O
Bem Viver convida você para comemorar o Dia Internacional da Amizade,
celebrado hoje, na contramão do mundo corrido: reserve um tempo para
cultivar as relações com quem se ama.
Ninguém nasceu para viver
sozinho. A psicóloga Fernanda Seabra, do Colégio Conviver e especialista
em terapia familiar sistêmica, esclarece que precisamos pertencer a um
grupo desde o momento em que nascemos e somos acolhidos pela nossa
família. Com o tempo, passamos a nos agrupar por afinidade. “Os inimigos
têm os nossos defeitos e os amigos, as nossas características, por isso
eles são o espelho da nossa alma. Com a amizade vamos atrair pessoas
que se parecem com a gente e têm em comum os mesmos planos, vontades e
desejos”, diz.
A realidade, no entanto, é cruel. São tantas as
tarefas para cumprir em um curto tempo que faltam oportunidades para
encontrar os amigos. Afinal, manter as relações em dia exige dedicação.
“Mas na hora em que passamos um momento de dificuldade, se não tivermos
estabelecido uma rede de apoio e alimentado nossas relações vamos sofrer
sozinhos. Os vínculos nos dão suporte”, pondera. Por isso, a psicóloga
sugere criar o hábito de cultivar as amizades, nem que seja com um
telefonema. Nenhuma relação vai ter futuro, se não for cuidada.
Todas
as quintas-feiras, o pediatra Jamil Nahass, de 74 anos, deixa o
consultório para encontrar amigos de longa data, todos integrantes do
grupo Petegolo. Eles jogam peteca e depois jantam no Pampulha Iate
Clube, em Belo Horizonte, enquanto batem papo e se divertem. “A maior
motivação para estar com os amigos é o aconchego. Às vezes você sai com
um problema do consultório e, quando chega lá, com todo mundo falando ao
mesmo tempo, em cinco minutos está numa ótima. Parece que fez terapia
de um ano”, brinca. “Se não fosse o compromisso, pelo menos meia dúzia
estaria em casa deprimido e cheio de dor.” Hoje, quase 30 homens fazem
parte do grupo, entre 54 e 79 anos.
As regras para entrar no Petegolo são claras: o candidato tem que passar
primeiro pela avaliação do chefe e depois deve pagar um jantar para
todos os integrantes. Antes de ser oficialmente integrado ao grupo, ele
permanece em período de experiência por três meses. “Também tem que
jogar peteca no mesmo nível. Se jogar mal, a turma o encosta até
recuperar a forma”, informa o pediatra. E mais, mulher não entra. Há
quase quatro décadas, Jamil conquistou seu lugar no Petegolo cozinhando
deliciosos pratos árabes e assumiu a função de fiscalizar a saúde dos
velhos amigos. “Fico coordenando a saúde de todos. Não deixo comer
demais, não deixo engordar nem abusar da bebida.”
De fato, ficar
isolado aumenta as chances de depressão. Mais um motivo para estreitar
as relações com os amigos. “Saber que o outro se interessa por mim e me
considera alimenta a vontade de viver e o desejo de sair de casa. Isso
nos mantém vivos”, afirma Fernanda Seabra. A amizade também pode ser
usada a favor da saúde, assim como ocorre no Petegolo. Por que não
convidar um amigo para ser companheiro de atividade física? Há quem se
sente mais motivado para se exercitar quando está acompanhado. “É um
momento de cuidar do corpo, se divertir e conversar. A pessoa volta para
casa muito mais relaxada e com uma sensação de prazer. Pode até ser que
os problemas não se resolvam, mas o fato de ser ouvido por uma pessoa
de quem se gosta tem efeito terapêutico”, diz a especialista.
COMPANHIA
O
professor Ronaldo Lemos Botrel, de 61, não tem dúvida de que a
atividade física fica muito melhor com companhia. Ele é um dos
integrantes mais antigos do grupo Corredores da Bandeirantes (Corban),
em referência ao nome da avenida onde ocorrem os encontros diários,
sempre no início da manhã. A preguiça e o cansaço são deixados de lado
quando Ronaldo lembra como é bom conviver com os amigos que, assim como
ele, gostam de correr. “Como temos afinidades, sai muita risada, casos
engraçados e brincadeiras. Além de fazer a prática da corrida,
desfrutamos de momentos agradáveis”, comenta.
Em mais de 30 anos
surgiram vários amigos que ainda estão presentes na vida de Ronaldo. O
professor, que também é maratonista, ressalta que a longa preparação
para as provas acaba contribuindo para criar laços de amizade entre os
competidores. “A corrida é o que nos motiva a encontrar e conviver, e em
razão disso muitas amizades são consolidadas.”